Seu guia de viagem em Portugal | 14 anos no ar

    Apesar do sobrenome, desconheço completamente a origem da miha família. Também não sei dizer exatamente quando foi que surgiu em mim o desejo de conhecer Portugal. Mas, toda vez que eu penso nisso, lembro de uma frase dita por uma professora de geografia da minha quarta série: ‘Portugal foi o pioneiro nas navegações devido a sua posição geográfica privilegiada.’ Achei as palavras tão bonitas e, por anos, me lembrava delas. Até que conheci a literatura portuguesa. A leitura de ‘Os Lusíadas’ me trouxe lágrimas aos olhos (e vários pontos na prova do vestibular).

    depoimento_ana_4

    Assim crescia em mim o desejo de conhecer essa terra e esse povo que inspirou tanta poesia.

    Há sete anos, numa conversa informal em um bar, conheci um rapaz, o Alexandre. Papo vai, papo vem, acabamos ficando juntos e foi quando eu soube que ele havia morado por 10 anos em Portugal. Ele dividiu comigo suas as experiências, vividas dos 13 aos 23 anos, e eu pude entender como havia sido moldado o seu caráter, muito diferente da maioria dos homens. Quando eu soube que fazia 7 anos que ele vivia no Brasil e ainda não havia voltado a Portugal, foi o estímulo que faltava para começar a planejar efetivamente a primeira visita. O nascimento do filho de um amigo muito querido de lá nos fez ver que não podíamos mais esperar.

    Ainda lembro quando cheguei a primeira vez: fevereiro de 2009. Eu estava, então, com 22 anos e tinha acabado de passar no vestibular pra veterinária, mas estava meio perdida. Fomos fazer uma trip por vários países da Europa. Porém, assim que o avião pousou no Porto, tive a sensação de estar chegando em casa.

    E foi onde me encontrei. A arquitetura portuguesa me é extremamente confortável aos olhos, a língua portuguesa me é suave aos ouvidos e os sabores… Ah! Os sabores desta terra são inigualáveis.

    Desde o primeiro momento fiquei apaixonada. Andava por ruas de Guimarães, Viana do Castelo, cidades até então desconhecidas, com a sensação de já ter estado ali muitas vezes. Não sentia como se estivesse conhecendo, mas sim revendo esses lugares. A maneira como as coisas funcionavam era tão diferente do que eu estava habituada, mas me parecia muito natural e até instintiva.

    No início, achei que era por causa da novidade. Sabe… Lugar diferente, clima de férias. Mas, a cada dia, mais eu me sentia como parte daquele lugar. E quanto mais eu descobria aquelas ruas, mais eu me descobria.

    E assim surgiu uma ideia: fazer uma tatuagem que conseguisse representar tudo o que Portugal significa pra mim.

    De volta ao Brasil, passei muito tempo pensando até decidir pela caravela. Representando tanto o contexto histórico e poético do lugar, como toda a experiência que eu vivi, achei que seria o ideal.

    Dois anos depois, em julho de 2011, eu voltei para a terrinha. Objetivo: férias no litoral. Um carro e 800 km de costa ao nosso dispor. Pronto. Foi o que bastou, pois o lugar conseguia ser completamente encantador tanto no inverno como no verão. Chegando lá, procurei alguns tatuadores, mas estavam em férias e os estúdios estavam fechados. Voltei ao Brasil frustrada. Eu queria a lembrança das terras lusas, e não sabia quando teria outra oportunidade.

    A minha surpresa veio no Natal de 2011. O Alexandre me deu de presente mais uma viagem, dessa vez, para acompanhar a turnê no Pearl Jam na Europa, entre junho e julho de 2012. Ainda sem saber se daria certo, por causa do trabalho e da faculdade, eu comecei a escolher os desenhos. Estava decidida, não ia sair de lá sem ela!

    E assim foi… Contatei um tatuador em Guimarães, falei da minha ideia e esperei ele fazer os desenhos enquanto viajávamos pela Europa, seguindo a banda.  Na volta, marcaria a sessão.

    SAMSUNG

    A minha surpresa maior, dessa vez, quem me deu foi o Pearl Jam. A banda lança um poster exclusivo para cada show feito. Eu estava em Amsterdam, na véspera de um dos shows, quando vi o poster do show de Isle of Wight desse ano: uma caravela. Inglesa, porém, maravilhosa… Com traços incríveis, que ficariam perfeios na pele. Pronto. Estava completo. Era um desenho que reuniria as minhas maiores paixões. Bati o martelo. É essa!

    Voltei a Guimarães e conversei com o Helder Almeida, do PropriusTattoos. Ele foi maravilhoso, adorou o desenho e sugeriu algumas modificações, entre elas a troca da cor da bandeira, de vermelho para azul, representando a bandeira do primeiro rei português. O maior desafio seria fazer a tatuagem, que tem 22 cm, em apenas uma sessão, pois minha viagem estava chegando ao fim.

    SAMSUNG

    No final, deu tudo muito certo. Numa sexta-feira, 13 de julho, eu entrei no estúdio decidida a fazer a minha homenagem à banda a ao país do meu coração. Levou quase duas horas pra ficar pronta e não podia ter ficado mais linda!

    Agora eu tenho, pra sempre, um pedacinho de Portugal comigo, pois esse país faz parte do que eu sou.

    Ana Carolina Pereira

    Você também tem uma história especial com Portugal e gostaria de vê-la publicada aqui no Cultuga? Escreva para nós!

    Sou jornalista especializada em cultura e tenho 41 anos. Lisboa é o meu lugar no mundo. Os meus pais são portugueses imigrados no Brasil. Depois de fazer o caminho inverso deles, me tornado também imigrante, assumi como missão do Cultuga diminuir a distância que separa o Brasil de Portugal.

    Deixe um comentário