Seu guia de viagem em Portugal | 14 anos no ar

    Todos os dias, às 18h, um grupo de músicos – sempre vestidos de preto – se reúne no centro histórico de Coimbra para resgatar, divulgar e apresentar o Fado de Coimbra – mas, mais do que isso, eles também estão ali para não deixar que as raízes desse estilo musical caia no esquecimento.

    O que fazer em Coimbra: onde assistir ao Fado

    Essa foi a nossa terceira vez em Coimbra, mas a primeira em que pudemos prestigiar pessoalmente o trabalho feito pelo projeto Fado ao Centro.

    Tal experiência cativou tanto a mim e ao Rafa, que não poderíamos deixar de dividir e recomendar aqui no Cultuga esse trabalho feito com tanto empenho e valor.

    Onde dormir em Coimbra: veja as nossas indicações

    Paisagem de Coimbra com edifícios antigos do centro histórico
    Coimbra é uma lição / De sonho e tradição / O lente é uma canção / E a lua a faculdade…

    Fado ao Centro: para conhecer a música de Coimbra

    Algumas considerações sobre o “fado turístico”

    Costumo ouvir com frequência de pessoas que estão montando um roteiro para Portugal dizerem: “Quero assistir a um Fado verdadeiro, onde os portugueses vão, e não turístico”.

    E, antes de começar a falar dessa experiência promovida pelo Fado ao Centro, penso que valha a pena justificar e explicar essa questão.

    Sou apaixonada por Fado, daquelas que cantarola no banho e vai as lágrimas quando pode ver um fadista ao vivo.

    Gosto de estudar sua história e, pouco a pouco, estou ampliando o meu repertório – por gerações e artistas.

    Por isso, também absorvo com facilidade desde as músicas que tocam no rádio ao cantarolado desafinado, mas cheio de alma, da cozinheira da tasquinha.

    Estamos falando de um estilo musical que se tornou Patrimônio da Humanidade em 2011 – algo muito recente e bem efervescente. E também de um estilo musical que não é apresentado espontaneamente, de segunda a segunda, em qualquer bar da esquina, em que os portugueses se reúnem.

    Onde eu quero chegar com essas informações, é que o uso do Fado como um produto turístico não é automaticamente ruim – ele não necessariamente perde suas características, qualidades e, principalmente, veracidade com isso – muito pelo contrário.

    Há instituições que estão focadas, justamente, na propagação e explicação desse estilo a quem quiser conhecer e também aprender, sejam nacionais ou estrangeiros.

    A questão é que com o alto fluxo de procura turística para conhecer e prestigiar esse estilo musical ao vivo, há locais que criaram uma forma própria de apresentar tais tradições e valores.

    Também existem aqueles exploratórios, rasos e vazios (nem recomendo passar na porta, pois já tive péssimas experiências), mas o que sublinho aqui é para que seja reconhecido também o esforço em manter e promover algo que é tão precioso e tão português com tanto amor e cuidado.

    Como é o Fado ao Centro?

    Aqui não estamos falando puramente de um projeto de cunho turístico, mas de um trabalho cultural.

    O Fado ao Centro é formado por um grupo de artistas portugueses, entre guitarristas e fadistas locais, que desejam levar a tradicional música de Coimbra a todos, com ensino e promovendo sua história.

    Veja aqui o nosso roteiro completo de Coimbra

    Ao passar pelas cortinas, entramos em uma sala decorada com fotografias de inúmeros momentos do projeto, cadeiras alinhadas e um pequeno palco.

    Pontualmente às 18h as portas são fechadas, o escurinho toma conta do ambiente e o que vemos nos próximos 50 minutos é uma apresentação focada em explicar o que é o Fado de Coimbra por meio da performance ao vivo dos músicos e da exibição de algumas imagens documentais que nos levam em uma agradável viagem pelo tema.

    Público aguarda a entrada dos músicos do Fado ao centro em uma sala com muitas fotos e luz baixa
    A sala do Fado ao Centro

    No dia em que estivemos por lá, pudemos conversar com o músico Hugo Martins, um dos fadistas que dá voz ao projeto.

    Ele nos explicou que, para ter performances diariamente, há um revezamento entre músicos. Isso porque, além da sala de Coimbra, o Fado ao Centro também viaja o país e o mundo para promover a música local (eles já estiveram, inclusive, no Brasil).

    Além da performance diária, o projeto tem discos gravados e uma escola que auxilia na propagação do conhecimento da guitarra portuguesa.

    Músicos do Fado ao Centro durante a apresentação
    Todos os músicos no palco em uma performance conjunta

    Mas o que é o Fado de Coimbra?

    Há, sim, diversas diferenças entre o Fado de Coimbra e o Fado de Lisboa.

    Mas, basicamente, o que percebemos de imediato é que o Fado de Coimbra está ligado diretamente aos estudantes.

    Por isso, nesse projeto cultural, todos os músicos são estudantes ou antigos estudantes da Universidade de Coimbra.

    Uma outra característica interessante são as temáticas, parte delas referenciadas a serenata. Ou seja, letras de amor, que revelam os sentimentos estudantis também são comuns.

    E, com gancho na serenata, mais uma marca dele é que as músicas são apresentadas tradicionalmente por homens, sempre vestidos com o típico traje acadêmico, de capa preta.

    estátua de um homem tocando uma guitarra portuguesa

    O Fado de Coimbra costuma ser apresentado nas ruas.

    Ou seja, dependendo da época da sua viagem, pode ser que, ao perambular pela noite, você consiga ver algum grupo universitário.

    Entretanto, é também por isso que o trabalho do Fado ao Centro é tão importante. Ele oferece a oportunidade do visitante não somente ouvir algumas músicas tradicionais diariamente, como de conversar com os músicos que integram esse universo fadista de forma tão plena.

    Ah, e tudo isso acaba com um cálice de vinho do Porto oferecido pela casa.

    Recomendadíssimo para o seu roteiro de Coimbra :D

    Fado ao Centro
    Todos os dias, às 18h
    Endereço: Rua do Quebra Costas, 7 (próx. a Sé Velha)
    Reservas e informações: info@fadoaocentro.com
    Compre aqui o seu ingresso antecipado

    Sou jornalista especializada em cultura e tenho 41 anos. Lisboa é o meu lugar no mundo. Os meus pais são portugueses imigrados no Brasil. Depois de fazer o caminho inverso deles, me tornado também imigrante, assumi como missão do Cultuga diminuir a distância que separa o Brasil de Portugal.

    Deixe um comentário