Seu guia de viagem em Portugal | 14 anos no ar

    Para um imigrante português, viver longe de suas raízes, pode levar ao apego dos mais simples detalhes, até dos mais clássicos clichês. Essa é uma forma de “aconchego”, de manter viva a sua história familiar e de matar as saudades.

    Os costumes, os sabores, as memórias e as vivências prevalecem, sobretudo para as gerações seguintes. É assim também lá em casa rs. Aqui, acabamos por construir um universo muito particular e interessante que envolve os dois países.

    Pensando em unir o amor e a curiosidade de luso-brasileiros por seus antepassados, fizemos um convite aos leitores do Cultuga que desejam compartilhar um pouco de sua própria história. Nessa série, que começa hoje, vamos mapear juntos raízes e lembranças – situações de família mesmo, como a minha e a sua, que são bastante simples, mas que nos identificam e, certamente, nos unem.

    A começar pela história da Bruna Agostinho Barbosa, que na foto aí de cima está junto de sua irmã, em frente a casa em que a avó materna, Filomena, nasceu, na Redonda – uma aldeia que faz parte do concelho de Proença-a-Nova, distrito de Castelo Branco (centro de Portugal). Veja o que ela nos contou:

    Meu avô Joaquim Agostinho era de uma aldeia chamada Palhota e minha avó Filomena nasceu em uma aldeia muito pequena chamada RedondaCasaram-se em 1958, em Fátima, e vieram morar no Brasil.

    Minha mãe nasceu por aqui, mas ainda temos muito contato com os parentes de lá. Inclusive, um dos irmãos do meu avô é padre, em Portalegre, e veio para o Brasil especialmente para celebrar meu casamento.

    Como meu avô já é falecido – e o Tio Padre é o único irmão vivo do meu avô -, foi tudo bem especial. Senti que meu avô também estava presente no meu casamento.”

    A Bruna vive em Maringá, no Paraná, mas já esteve três vezes em Proença-a-Nova, para visitar a região de sua família:

    “Estive na aldeia da minha avó em 1990, quando tinha apenas três anos, e fiquei hospedada na casa da minha bisavó Conceição, pois ela ainda era viva. Depois que ela morreu, minha avó e minhas tias venderam a casa para uns ingleses, que planejavam torná-la uma pousada. Entretanto, até hoje a casa está abandonada.

    Estive lá mais duas vezes, em 2003 e 2013. Realmente, é muito bom voltar às origens!”

    Ela também conta algumas de suas lembranças das vezes em que esteve lá:

    “Embora eu fosse muito pequena, ainda tenho algumas memórias da minha bisavó. Ela tinha uma horta bem grande. Lembro-me de dar comida para as cabras dela, e de colher uvas. Lembro também que ela tinha um cachorro chamado Tejo, era um perdigueiro português.

    Quando voltei para visitar o lugar, nas outras duas vezes, o sentimento foi outro: a nostalgia por retornar a um lugar onde fui muito feliz na infância, e a realização de saber que aquelas são minhas origens.

    O que mais a surpreendeu nas visitas que fez a aldeia foi:

    “Eu me surpreendi com a situação no interior de Portugal, hoje em dia. A aldeia da minha avó tem pouquíssimas casas, e descobri que hoje a população é de apenas oito pessoas. A maioria foi para as grandes cidades, o que é um pouco triste, pois acabam se perdendo muitos costumes e tradições.

    Ficamos sabendo que muitos dos atuais proprietários das casas situadas no interior são pessoas que moram nos grandes centros (como Lisboa e Porto), mas que vem passar os finais de semana no campo, para acalmar os ânimos.”

    Mas, das memórias que ouviu dos avós, lembra-se:

    “Minha avó fala com muita saudade de sua infância e juventude. Ela estudava em Castelo Branco, em um colégio interno, e conta que sempre quando voltava para a sua casa na aldeia (Redonda) era uma alegria.

    Ela conta que a vida lá era muito simples, mas tinham o essencial, e que nunca lhes faltou nada.

    Meus avós portugueses tinham por costume ir sempre para Portugal. E minha mãe, desde que era criança, sempre que podia passava as férias lá. Sempre a ouço falar de como as férias eram gostosas!

    As referências que remetiam a sua casa não poderiam ter sido diferentes:

    “Estando em família – tanto na casa da minha bisavó como na casa das minhas tias – achei o tempero muito parecido com o da comida da minha avó.  E a comida da avó é sempre a melhor… “

    Por fim, pedi que a Bruna nos contasse mais sobre sua relação com o país:

    “Sou apaixonada por Portugal, de uma maneira geral: cultura, gastronomia, música, literatura. Por isso tenho muito orgulho das minhas origens. Acho importante ter esse contato e cuidar para que esse vínculo não se acabe.

    Essa paixão por Portugal eu herdei da minha avó Filomena e da minha mãe, Maria de Fátima. Minha avó tem uma pequena chácara, carinhosamente chamada de “Quinta dos Olivais” onde nos reunimos aos domingos. Lá temos dois pés de oliveira e uma imagem de Nossa Senhora de Fátima…

    Aproveito para agradecer, mais uma vez, a Bruna pelo carinho e por ter dividido essas memórias tão preciosas e particulares aqui no Cultuga :)

    Sou jornalista especializada em cultura e tenho 41 anos. Lisboa é o meu lugar no mundo. Os meus pais são portugueses imigrados no Brasil. Depois de fazer o caminho inverso deles, me tornado também imigrante, assumi como missão do Cultuga diminuir a distância que separa o Brasil de Portugal.

    2 Comentários

    1. Muito legal a história da Bruna que,seguramente,é parecida a muitas outras de descendentes portugueses que no Brasil vivem.Lindas histórias que devem ser compartilhadas,até para que mais pessoas conheçam,
      se interessem em visitar e entendam o porque de tanta paixão de todos que visitam essa a terra tão linda e hospitaleira que é Portugal.
      Parabéns ao Cultuga, por dar tão importante espaço a um tema tão interessante como esse.

      • Olá, Augusto
        Tudo bem?
        Nós também gostamos muito da história da Bruna e ficamos felizes que você tenha achado legal. :) As pessoas se apaixonam pelo país por ele ser do jeito que você disse: lindo e hospitaleiro. Sem contar as outras diversas características encantadoras, como por exemplo, a gastronomia!
        Um grande abraço e obrigado pelo carinho!

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