Seu guia de viagem em Portugal | 14 anos no ar

    Responda de imediato: qual é o seu encontro musical luso-brasileiro favorito? Ontem mesmo, enquanto assistia ao programa “Em Pauta”, da Globo News, o apresentador Sérgio Aguiar comentou sobre a recente parceria da fadista Carminho com Chico Buarque, Nana Caymmi e Milton Nascimento para a gravação de faixas inéditas do disco Alma, lançado em dezembro do ano passado no Brasil.

    A minha lista do assunto é imensa. Sinto uma espécie de orgulho quando vejo artistas portugueses e brasileiros dividindo o palco ou uma canção em qualquer que seja o lado do Atlântico.

    Para o post de hoje, separei um daqueles encontros que chamo de um verdadeiro casamento. Trata-se de Arnaldo Antunes ao lado dos portugueses do Clã.

    O Arnaldo é um dos poetas brasileiros que mais gosto e dispensa apresentações. É um excelente intérprete de suas composições é também um grande artista, performático e carismático.

    O Clã é uma das bandas de maior respeito da música portuguesa. Liderada pela querida Manuela Azevedo, o grupo tem seis discos lançados e completa 21 anos em 2013. Assista aos vídeos!

    Qualquer” está presente no trabalho de mesmo nome de Arnaldo Antunes, lançado em 2006, e foi composta em parceria com o Clã. Nesse mesmo disco há mais uma faixa que conta com a participação dos portugueses, a linda “Num Dia”. O vídeo mostra uma performance, anos mais tarde, no palco do Sesc Pompéia, em São Paulo:

    Em 2004, Arnaldo Antunes esteve em Portugal para participar da gravação do primeiro DVD do Clã, Gordo Segredo. A apresentação foi no grande auditório do Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra. Nesse vídeo, eles mostram “Consumado”, uma canção de Arnaldo Antunes em parceria com Marisa Monte e Carlinhos Brown:

    Ainda para a gravação do DVD do Clã, Arnaldo Antunes compartilhou mais uma música brasileira: “A razão dá-se a quem tem”, de Noel Rosa:

    Em 2008, Arnaldo Antunes voltou a Portugal e participou do Festival Sudoeste ao lado do Clã. Nos palcos, eles mostraram mais uma canção feita em conjunto, a genial “H2Omem” – gravada pelo Clã em 2000 para o disco “Lustro”:

    Veja algumas imagens deles no camarim do Sudoeste, em 2008. Essa conexão tão grande não se deve apenas a esses encontros aqui listados. A título de curiosidade, Arnaldo Antunes ainda colaborou com o Clã no disco “Rosa Carne”, de 2004, com as canções “Seja como for” e “Eu ninguém” e no disco “Cintura”, de 2007, com as músicas “Vamos esta noite” e “Pra continuar”:

    Para finalizar, um texto da vocalista Manuela Azevedo que encontrei sobre um recorte dessa parceria tão especial:

    “O Arnaldo é um poeta, é um escritor e um músico que nós admiramos já há muito tempo. Foi, justamente por admirá-lo muito que, na altura em que estávamos a construir o material para o álbum, pensávamos que era bestial se tivéssemos uma letra dele. Como chegou entretanto, à EMI, o Paulo Junqueira, vindo do Brasil, achámos que podia ser a pessoa indicada para nos dizer se era possível ou não sonhar uma coisa destas. Ele não só achou que era possível, como disse que conhecia muito bem o Arnaldo, que ficássemos sossegados que lhe ia enviar o material e que se a resposta fosse boa ele dava, se fosse má também a dava. Nós gostamos das coisas assim, em pratos limpos.

    O Arnaldo gostou muito dos trabalhos, mesmo muito, e, uma semana depois de ter recebido os discos mandou por fax três letras, onde dizia: Trabalhem, que é a maneira mais rápida de se fazerem as coisas. Fico à espera da canção. Entretanto nasceu o H2Omem. Foi mais ou menos rápido, o processo de composição, mas foi difícil, de início, escolher a letra, porque as três eram óptimas, eram letras bestiais. Assim que fizemos o H2Omem, abrimos agenda em Abril, estreámo-lo logo, foi um sucesso, e depois gravámos e mandámos para o Arnaldo, que gostou muito da gravação. Por coincidência, tivemos oportunidade de ir a São Paulo, em Julho de 99. Como é a cidade do Arnaldo convidámo-lo a ir assistir a um dos concertos e ele ainda gostou mais de ouvir a música em palco. Depois passámos um dia inteiro em casa dele, a ouvir música brasileira, a conversar, a comer sushi… bebemos as garrafas de vinho todas que ele tinha… (risos)

    Artisticamente encontrámos alguns traços comuns com o Arnaldo que é um tipo que trabalha muitíssimo bem, muito responsável, sempre interessado, muito simples, muito humilde… Também descobrimos que é um poeta muito amado em São Paulo. Nos dois concertos que demos, sempre que apresentávamos a música e dizíamos que tinha letra de Arnaldo Antunes, a ovação era magistral.

    Entretanto, temos estado em contacto com o Arnaldo constantemente. Ele esteve cá no fim de Junho, a tocar no Palácio. Não conseguimos ver o concerto porque estávamos a tocar nesse dia, mas, durante o fim de semana encontrámo-nos com ele e com a família, fomos almoçar e depois fomos para a sala de ensaios, em Vila do Conde.”

    Foto do topo: Reprodução/ Blitz/ Rita Carmo/ Espanta Espíritos

    Sou jornalista especializada em cultura e tenho 41 anos. Lisboa é o meu lugar no mundo. Os meus pais são portugueses imigrados no Brasil. Depois de fazer o caminho inverso deles, me tornado também imigrante, assumi como missão do Cultuga diminuir a distância que separa o Brasil de Portugal.

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